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Vieira da Silva: Os frutos da liberdade / Vieira da Silva: The fruits of liberty

Esta exposição deixou-me feliz. As gravuras e serigrafias de Maria Helena Vieira da Silva são tão fortes e tão focadas. As múltiplas linhas, marcas e pontos comunicam energia e dinamismo, e ao mesmo tempo uma simplicidade.  Por muito que tenha gostado, perguntei-me mais tarde porque é que as exposições sobre o tema da liberdade raramente incluíam jovens artistas. Como se a liberdade fosse um tema exclusivo para os artistas que nasceram antes de 1974.    A exposição está patente na Biblioteca Municipal de Gaia e prolonga-se até 3 de novembro. Vale a pena.  I left this exhibition feeling buoyant. Maria Helena Vieira da Silva's silkscreens and etchings are powerful and focused. Her abstract works communicate lightness, movement and space.  Along with the warm glow that the exhibition gave me, it also raised the question of why exhibitions on the theme of liberty and 25th March include so few young or contemporary artists. It's as if this theme were only relevant ...

B Bicho Besta - intenso, persistente, inquietante / rich, persistent, unsettling

Apesar do seu nome, Vila Nova de Gaia não tem muitos espaços verdes. E a maior parte deles tem carácter ambivalente: terrenos em que o perímetro é meio aberto e meio fortificado (cercas de chapa de aço, pedregulhos, valas, arame). Um aviso para ficar de fora; um convite para entrar. A primeira exposição individual de Pedro Sardinha, intitulada B Bicho Besta , tem lugar em Gaia e gera a mesma sensação de incerteza, o mesmo puxa-empurra.  B Bicho Besta está instalada numa tipografia (Casa da Imagem, Rua Soares dos Reis, 612, Vila Nova de Gaia). A primeira obra que se vê, Origami , é um filme num ecrã no chão do corredor. A filmagem foi feita junto ao chão, como se o operador estivesse escondido. O filme mostra uma cena comum: um parque de estacionamento com arbustos à volta. Aparece um homem com uma enorme lona e começa a dobrá-la. Ao sair, esfrega as mãos para dizer “está feito”. Entretanto, em primeiro plano, há uma coisa fibrosa castanha, mais ou menos do tamanho de uma luva de t...

Comboio boat mar bed praia tea

Two friends of mine were having a conversation. I was listening intently because it was in Portuguese. And because it was spoken with elision, allusion and enthusiasm, I was getting the gist without the detail until this phrase stood out: eles perderam o comboio  (they missed the train). It referred to being slow to decide and as a consequence missing an opportunity. I interrupted to check, and yes, my friends said, it did mean the same as they missed the boat.  I loved the way the two phrases, in the two languages, shared the same structure and differed in just one detail: miss the boat or miss the train .  Here’s three more pairs: A vida não é um mar de rosas. Life's no bed of roses. Não é a minha praia. It’s not my cup of tea. Ela pôs uma pedra na engrenagem. She put a spanner in the works.  Dois amigos meus estavam a conversar. Eu estava a ouvir atentamente porque era em português. E como eles falaram rapidamente e com vigor, eu percebi  só o essencial sem ...

Reading on the metro

Books rarely make it onto the metro. Phones take up the attention of my fellow travellers: playlists, whatsapp, video games, checking their appearance on the selfie camera. Same for me - there's always a date I need to confirm with someone or a message to send.  And yet, there are a few lone readers. When I spot one I want to know what they’re reading. Sometimes the cover is visible. Or the book design includes what designers call a running head which means the book title is repeated as a header at the top of every page. Last week I was lucky; I saw a book on every trip to work: Friday 14 June 2024, 09:35 Freida McFadden, The Housemaid (in Portuguese) Monday 17 June 2024, 07:50 Harley Laroux, Her soul for revenge (in English) Tuesday 18 June 2024, 08:20  George Orwell, 1984 (in Portuguese) Wednesday 19 June 2024, 07:59 Patrice van Eersel, Le Cinquième rêve (in French) Thursday 20 June 2024, 08:21  João Pedro Marques, The Strange case of Sebastião Moncado (in Portugues...

Livros no metro

São poucas as pessoas que leem no metro. As atividades preferidas para os meus companheiros de viagem estão centradas no telemóvel: videojogos, chamadas, whatsapp, música, verificando o próprio cabelo na selfie câmara. Mesma coisa para mim - mando mensagens, partilho imagens. Há sempre mais para fazer.  Mas existem uns indivíduos marcantes que tragam um livro. Mal vejo um livro no metro, quero saber mais: autor, título, idioma. O que me atrai nos livros é que o trabalho já foi feito. As ideias já são escritas, organizadas, preparadas e têm agora uma serenidade poderosa; são como um grupo de atores alguns minutos antes do espetáculo.  Na semana passada tive sorte; vi um livro cada dia (ou, pelo menos, todos os dias úteis): s exta-feira 14 junho 2024, 09:35 Freida McFadden, A Criada segunda-feira 17 junho 2024, 07:50 Harley Laroux, Her soul for revenge (versão inglês) terça-feira 18 junho 2024, 08:20  George Orwell, 1984 (versão português) quarta-feira 19 junho 2024, 07:59 ...

Tudo pode ser conectado

Em março tive uma reunião com Inês Pina, a coordenadora da Educação Artística (Artes) de Serralves. Falámos de festivais, de desenhar nas mesas escolares e de como conectar várias e diversas opiniões sobre arte. A conversa foi em inglês e começou no atelier educativo; continuou durante uma rápida visita às galerias. A Inês mostrou-me a nova ala e as duas obras que ela tinha escolhido para responder às minhas duas últimas perguntas. Depois da conversa eu traduzi em português. Qualquer erro no português é meu.  Lawrence Bradby: No Reino Unido trabalhei no serviço educativo de vários museus. Gostaria de saber mais sobre o ensino em museus em Portugal. Como é que funciona? Quais são as prioridades? A minha primeira pergunta é sobre a sua experiência profissional: cá em Serralves qual o projeto em que mais gostou de trabalhar? Inês Pina: Comecei a trabalhar em Serralves em fevereiro de 2023. De todos os projectos do último ano, houve dois que me agradaram particularmente. Um foi o Serra...

Everything can be connected

In March I met Inês Pina, the Education Coordinator (Arts) at Serralves. We spoke about festivals, drawing on the school desks, and how to connect multiple and diverse opinions on art. The conversation started in the education studio and then continued during a quick tour of the galleries. Inês showed me the new wing and the two artworks that she’d picked in answer to my final two questions.  Lawrence Bradby: In the UK I worked in gallery education. I’m interested in learning about the culture of gallery education here in Portugal. How does it operate? What are its priorities? What are its rewards? So my first question is about your experience of the job: what’s the most enjoyable project you’ve worked on at Serralves? Inês Pina: I started working at Serralves in February 2023. Within all the projects over the last year there were two that I particularly enjoyed. One was Serralves em Festa . It’s a huge celebration, a free 50-hour non-stop festival. There are many many people insid...