O MUSEU MORREU - é uma afirmação forte. Ainda mais quando é fixado na porta do museu. Esta afirmação, numa foto de 1974, é usada na publicidade da atual exposição temporária no Museu Nacional Soares dos Reis. Na foto, a afirmação tem uma segunda parte, prometendo renascer: VIVA UM MUSEU VIVO
A exposição tem um título comprido: Exposição CAC – 50 anos: A Democratização Vivida. Começa num estilo vigoroso, com grandes fotografias a preto e branco ao lado da rampa da entrada. Estas fotografias foram tiradas no dia 10 de junho de 1974, quando um grupo de artistas e outros ativistas comemoraram o que diziam ser a morte do Museu Nacional Soares dos Reis. Nas fotografias vemos uma multidão (alguns sisudos e outros a sorrir), cartazes, roupas fúnebres, faixas, um carro funerário, um padre. Num cartaz está escrito: QUERO PODER LANCHAR E ALMOÇAR NO MUSEU UMAS TORRADINHAS E LEITE COM CHOCOLATE
Esta manifestação pública e satírica levou, dois anos mais tarde, à criação do Centro de Arte Contemporânea (CAC). O CAC foi instalado na própria instituição que tinha sido proclamada morta, o Museu Nacional Soares dos Reis, e apresentou muitos dos artistas cujo trabalho não havia sido exibido em instituições públicas durante a ditadura.
Exposição CAC – 50 anos: A Democratização Vivida recria parte desse dinamismo. Os dois espaços principais estão repletos de trabalhos expostos no CAC entre 1975 e 1981. Há gravuras escuras (Júlio Pomar), escultura colorida (Jorge Pinheiro), composições geométricas (Nadir Afonso), fotografias pintadas (Ana Vieira), críticas sardónicas ao consumismo (Emília Nadel; mostrado abaixo), registos fotográficos de acções de land art (Alberto Carneiro), bem como trabalhos têxteis, escultura, arte erótica, colagem e cinema. O texto dos curadores na parede explica que estes eventos foram, por sua vez, ‘a semente da Fundação de Serralves e do seu Museu de Arte Contemporânea’ no Porto.
No final da exposição, escondida num canto, encontra-se uma carta datada de 15/11/1975. É do diretor do Museu Nacional Soares dos Reis para o Diretor-Geral dos Assuntos Culturais em Lisboa. A carta propõe uma coleção de arte contemporânea, em todas as suas formas, e sugere algumas formas de parceria e apoio financeiro.
A narrativa da Exposição CAC – 50 anos: A Democratização Vivida é clara. Primeira parte: uma declaração pública da morte do museu. Segunda parte: a criação do CAC e uma onda de exposições. A terceira parte está fora do âmbito da exposição, mas paira sobre ela: o que é a Fundação Serralves?
A Fundação Serralves é uma das herdeiras do desejo de mostrar e partilhar a arte contemporânea. O website da Fundação diz que é um museu de arte contemporânea, que ‘apresenta exposições dos mais importantes artistas nacionais e estrangeiros’. O website menciona vários prémios e utiliza as palavras ‘reconhecida’, ‘icónica’, ‘bem-sucedida’, ‘galardoada’ e ‘reconhecimento internacional’.
Mas a questão que o Centro de Arte Contemporânea: 50 Anos - Democratização Vivida coloca não é se a Fundação Serralves é reconhecida e icónica e galardoada; a questão é se é uma expressão do museu vivo. A Fundação Serralves tem sustentado e participado numa cultura de arte democrática no Porto? Pode lá levar as suas tostas e leite com chocolate?
Agradecimentos a Tomás Vieira pela sua ajuda na tradução.

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