Consegue bater na cabeça e esfregar a barriga ao mesmo tempo?
Consegue ir às compras enquanto ajuda o teu filho com o TPC de matemática através do telemóvel?
Consegue ler uma língua enquanto ouve uma segunda língua ocultada pela primeira?
Consegui recentemente realizar o terceiro destes desafios de multitarefas e o brilho da realização ainda está comigo.
Trabalho numa escola em Portugal. Comecei no ano passado, quando foi acrescentada uma ala internacional; internacional no sentido em que o meio de instrução é inglês, as qualificações são certificadas por uma organização registada no Reino Unido, e a maioria dos alunos vem de fora de Portugal.
A escola existe há quase de noventa anos, por isso os seus sistemas já estavam estabelecida antes de começar a oferecer o inglês com o meio de instrução: registo, políticas, planos de actividades, directrizes de vestuário, categorias para registar as faltas dos alunos e todos os outros procedimentos necessários para um funcionamento eficaz. E, naturalmente, tudo isto estava em português.Alguns professores da ala internacional são bilingues em inglês e português. Para nos outros, há a outra língua, a que não é a nossa língua materna. Qualquer que seja a nossa competência e confiança na outra língua, todos nós, mesmo aqueles que só dão aulas na nossa língua materna, tornámos-nos translinguísticos.
O que quero dizer é que as nossas conversas de trabalho vão e voltam entra o português e o inglês. Como um par de planetas em órbita mútua, cada língua funciona sob a força gravitacional da outra.
Há momentos em que a força de uma das línguas causa uma mudança na outra. Foi o que aconteceu com o titulo diretor de turma. Na ala internacional da escola, esta função foi inicialmente traduzido como head teacher. Isto criou uma confusão porque, em inglês, head teacher significa o professor responsável pela direção de uma escola.
Após discussões, alguns colegas começaram a usar form tutor como alternativa, mas outros continuaram a usar head teacher. A nossa equipa aceitou que head teacher tem dois significados, e o significado que privilegiamos no discurso do dia a dia da escola é um significado específico para nos. As pessoas fora da nossa equipa entenderiam head teacher de forma diferente.
Outro caso é falta. Não existe uma única palavra em inglês que abranja as categorias de ausência da escola, falta de material, falta de trabalho. Como professores, mesmo quando estamos a falar em inglês, usamos frequentemente a palavra falta - é mais rápida, mais eficaz e, se calhar o mais importante, ha um coluno para isso no registo online.
Um terceiro momento de translinguismo é aquele que me fez sentir tão astuto. Reparei que a palavra already era frequentemente utilizada pelos meus colegas portugueses. Quando um deles partilhava um documento online, escrevia frequentemente: I've already put the mid-term reports in the shared folder.
Pessoa A (verbalmente): Have you shared those mid-term reports?
Pessoa B (através do Teams): I've already put the mid-term reports in the shared folder.
Neste caso, o uso da palavra already parece um pouco defensivo.
Quando comecei a seguir estes pequenos conversas, reparei que already não estava a cumprir o seu papel habitual na língua inglesa. Não significava antes de um momento definido. Na verdade era um substituto da palavra já. Embora já pode ser traduzido com a palavra already, seja mais flexível e gregário. O numero de expressões em que se usa é muito mais grande: para já, já volto, desde já. Assim que ouvi o já atrás do already, a frase I've already put the mid-term reports in the shared folder fez sentido. Não era uma resposta nenhuma, e o já era para a tornar mais enfática, mais parecida com a língua materna de quem a escreveu.

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