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Um género de trabalho bem definido

Nettie Burnett teve muitas exposições em galerias em Portugal, no Reino Unido e noutros países. (Perguntei-lhe quantas e ela disse-me que ela já não sabia quantas). Trabalha em grande escala e faz desenhos que são ao mesmo tempo subtil e poderosos. Muitos destes desenhos mostram árvores grandes, muitas vezes vistas de baixo, de modo a que o espectador fique impressionado e também atraído para o pormenor. Nettie também trabalha em escultura e livros de artista.

Um amigo apresentou-nos a Nettie antes de nos mudarmos do Reino Unido, por isso ela foi uma das primeiras artistas em Portugal que conhecemos. 

Lawrence: Quando e onde é que expôs pela primeira vez as suas obras em Portugal?

Nettie: A minha primeira exposição foi na Cooperativa Árvore, em 2001. Foi uma exposição partilhada com o Bartolomeu dos Santos que, na altura, era diretor de Gravura na Central St Martins. (Vendi a maior parte do meu trabalho nessa exposição - o que não acontece muito hoje em dia!)

L: Em quantas galerias diferentes já expôs, mais ou menos, desde o início da sua carreira?

N: Está a perguntar sobre exposições individuais...? Perdi a conta, mas posso dar uma vista de olhos até aos Young Contemporaries em 1976....? Penso que atualmente se chama New Contemporaries.

L: Como é que se conhecem galeristas e curadores em Portugal?

N: Bem... essa é uma pergunta boa. Tive a sorte de ser convidado para todas as minhas exposições individuais, incluindo as exposições na Cooperativa Árvore, Galeria São Mamede (Lisboa e Porto), Lugar do Desenho, bem como as exposições coletivas em que participei.

L: Em Portugal, como é que os artistas conseguem exposições em galerias ou museus?

N: A minha história aqui em Portugal é que, depois da minha exposição na Cooperativa Árvore, fui convidada para dar aulas na ESA do Porto (Escola Superior de Belas-Artes do Porto), que já fechou. Através da mesma exposição na Cooperativa Árvore fiquei a conhecer vários galeristas. A Cooperativa Árvore foi, e talvez ainda seja, uma boa rampa de lançamento. Como tinha um género de trabalho específico (desenho), consegui criar um nicho. Tudo isto não foi intencional da minha parte. 

Como é que os outros artistas conseguem exposições? Os pintores são, de longe, a maior parte do mercado. Os escultores têm dificuldades. E o desenho é um pouco estranho para a maioria das pessoas (exceto para os arquitectos). 

L: Ainda tem interesse em exposições em galerias?

N: Desde o início da pandemia que tenho, pela primeira vez, um atelier aberto onde qualquer pessoa que passe pode entrar, ver, comentar e comprar. Isto resultou em alguns diálogos maravilhosamente esclarecedores, algumas trocas interessantes, tanto verbais como físicas, em que os clientes me trouxeram várias coisas com os quais supõem que vou querer trabalhar. Acima de tudo, tem havido um diálogo extremamente rico de ideias políticas que abarcam questões ambientais e sociais de todo o género.

Poder ver a obra, tocá-la fisicamente, poder questionar o artista sobre a obra informalmente sem a rigidez e a frieza que um espaço de galeria ou de museu naturalmente me abriga, tudo isto tem sido uma verdadeira aprendizagem e nowadays já não procuro da Grande Galeria Importante ou do Grande Museu Importante onde possa expor.

Mas se Serralves (Porto) ou Thaddeus Ropac (Londres) me pedissem para fazer uma exposição, serei com todo o gosto.

L: Como é que as galerias de arte em Portugal são financiadas e sustentadas?

N: A maior parte das galerias são privadas e a maior parte dos museus são financiados pelas Câmaras Municipais ou pelas freguesias onde se situam.

L: Muito obrigado por partilhar as suas ideias e a sua experiência, Nettie. 

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