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Multilingue / Multilingual

Na sexta-feira, 14 de Abril, fui a um evento multilingue incomum. Multilingue porque falaravam três línguas para manter todos na conversa. Incomum porque nenhuma destas línguas era o inglês. 

Tratava-se do lançamento de dois livros de Peter Svetina na Livraria Velhotes em Vila Nova de Gaia. Peter é um autor infantil consagrado, mas estas são as suas primeiras publicações em Portugal. 

Peter esteve à conversa com dois dos seus editores: o seu editor português, João Manuel Ribeira, e a sua editora eslovena, Barbara Pregelj. A maior parte das perguntas vieram de Barbara. Ela dirigiu-as a Peter em espanhol e ele respondeu em esloveno. Depois, Barbara traduziu as respostas para espanhol, para benefício do público. 

Tenho quase a certeza de que, à excepção das três pessoas na fila da frente que se riram ou acenaram com a cabeça enquanto o Peter falava em esloveno, todos os outros tinham o português como primeira língua. O editor João Manuel Ribeira fez algumas perguntas em português, mas as línguas dominantes eram o espanhol e o esloveno. Apesar disso, o público deu todos os sinais de estar a acompanhar o discurso. 

No meu dia-a-dia, a frase 'seria mais fácil em inglês?' é um juízo sobre os meus habilidades linguísticos. Normalmente é dita com gentileza, mas significa que não comuniquei com clareza ou que as minhas dificuldades com a língua portuguesa eram demasiado óbvias. 

O inglês é a rota segura, a nova estrada, o caminho que aplaina a paisagem, ignora as curvas e cuidados pré-existentes e leva-nos ao nosso destino. Foi fantástico estar num evento que não precisava de usar o inglês. 

A close up of a poster showing a hand.

On Friday 14th April I went to an unusual multilingual event. Multilingual because three languages were used to keep everyone present in the conversation. Unusual because not one of the languages was English. 

It was a book launch of two titles by Peter Svetina and it took place at Livraria Velhotes in Vila Nova de Gaia. Peter’s an established children’s author but these are his first publications in Portugal. 

Peter was in conversation with two of his editors: his Portuguese editor Joao Manuel Ribeira, and his Slovenian editor Barbara Pregelj. Barbara asked most of the questions. She addressed them to Peter in Spanish and he replied in Slovenian. Barbara then translated his answers back into Spanish for the benefit of the audience. 

I’m fairly sure that, apart from the three people in the front row who laughed or nodded along as Peter spoke in Slovenian, everyone else had Portuguese as their first language. The editor Joao Manuel Ribeira made a few interjections in Portuguese, but the dominant languages were Spanish and Slovenian. Despite this, the audience gave all the signs of following the discourse. 

In my day-to-day dealings the phrase ‘would it be easier in English?’ falls in judgement on my language skills. It’s usually offered with kindness but it means that I haven’t communicated clearly or that my struggles with the Portuguese language were too much for my interlocutor to bear. 

English is the safe route, the new road, the way that flattens the landscape, ignores the pre-existing curves and cares, getting us to our destination. It was amazing to be at an event which sought no recourse in English. 

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