Os manuais escolares de PLNM são escritos para o que precisam um turista ou um estudante Erasmus. Enquanto isso, os explicadores do Youtube estão a organizar o português em nacos gramáticos de 4 minutos. Tudo isto é funcional, não fluido. Ensina-nos a comunicar necessidades específicas (Onde fica a farmácia mais próxima?) e emoções fixas (Estou tão feliz que veio à festa).
Não quero apenas a linguagem de nomear e pedir, quero uma linguagem que traga as coisas à existência, uma linguagem de conversação, uma linguagem que pendure uma frase na outra para criar um novo espaço, um espaço que implora ser respondido. Uma linguagem como as formas de tangram.
A lingua pode ser generativa sem ter frases longas ou conjugações complexas no condicional (o quer que isso fosse). O que importa é o ritmo e os ângulos.
No verão passado, encontrei este tipo de linguagem no livro Aqui E Um Bom Lugar (Ana Pessoa & Joana Estrela). Gostei do livro mesmo antes de ler; os desenhos são ao mesmo tempo leve e intenso.
O texto é vivo e breve. Algumas frases do texto, como sei lá, uso todos os dias. Como é que eu conseguia antes de saber este frase?
Outra frase do livro tornou-se o meu mantra. Tinha muitos reuniões com a professora teimosa da minha filha de meio. Antes destas reuniōes repeti: plano para este ano letivo: acabar o oitavo ano e nunca mais por os pés nesta escola. Ao que eu acrescentava em inglês: we will bid this bastard school farewell. O que fizemos.
Mais recentemente descobri Pardalita (Joana Estrela). Este livro deu-me frases como És um cabeça no ar e Estás a gozar? Nem morta! e Va meter-se na sua vida e Não podemos ser todos um crânio. Também adoro o tema-e-variações desta frase: é uma cidade pequena e toda a gente sabe tudo sobre todos.
Esta linguagem voa.
The textbooks for introductory Portuguese lean towards the things a tourist or an Erasmus student needs. Meanwhile the Youtube teachers are organising Portuguese into 4-minute grammar gobbets. All of this is functional, not fluid. It teaches you to communicate specific needs (Onde fica a farmácia mais próxima? / Where is the nearest chemist?) and fixed states (Estou tão feliz que veio à festa / I’m so happy you came to the party).
I don’t just want the language of naming and requesting, I want the language that brings things into being, language that uses the rhythm of exchange, that hangs one phrase off the one before creating a space that begs to be added to. Language like tangram shapes.
Language can be generative without having long sentences or complex conjugations in the conditional. It’s about the rhythm and the angles. Last summer I found this kind of language in Aqui E Um Bom Lugar (Ana Pessoa & Joana Estrela).
I liked the book even before I began to read it; the drawings have a combination of lightness and intensity. The text is brief and lively. Some phrases from it I now use daily. Sei lá is one (meaning How should I know or Dunno). How did I manage without this phrase? I used to just use Não sei every time, like some awkward candidate at a job interview.
Another phrase from the book became my mantra before meetings with my middle daughter’s stubborn and unhelpful teacher: plano para este ano letivo, acabar o oitavo ano e nunca mais por os pés neste escola (meaning plan for this school year, finish year eight and never set foot in the school again). To which I added, in English, we will bid this bastard school goodbye. (Which we did.)
More recently I discovered Pardalita (Joana Estrela). This gave me phrases like És um cabeça no ar and Estás a gozar? Nem morta! and Va meter-se na sua vida and Não podemos ser todos um crânio. And I love the theme-and-variations of this phrase: ... é uma cidade pequena e toda a gente sabe tudo sobre todos.
This language flies.

Comments
Post a Comment
Please share your thoughts about this post: