No sábado, durante o desfile da coroação em Londres, o Metropolitan Police construiu um biombo de três andares de altura para esconder os manifestantes republicanos. Os manifestantes ainda lá estavam, mas o Rei Carlos e a maior parte das câmaras de televisão já não os conseguiam ver.
Actualmente vivo em Portugal. Daqui, a vista do Reino Unido é um turbilhão de bandeiras, autobiografias de celebridades escritas por escritões-fantasmas e fotografias da família Windsor. Aqui está a banca de jornais por onde passo a caminho do trabalho. Está espessa de cobertura da coroação:
As vezes a imprensa portuguesa dá cobertura aos cidadãos britânicos que não querem uma monarquia, mas isso está escondido nas páginas interiores. A impressão que fica é a de uma nação unida no apoio ao seu chefe de Estado não eleito e à sua família custosa.
No Reino Unido, há bastante pessoas que não querem um monarca. Duas sondagens recentes indicam um quinto ou um quarto da população. Nem isso e nem as detenções de Graham Smith e de outros que protestavam pacificamente contra o desfile real estão visível do Portugal.
Vivendo no Reino Unido, sabia que o BBC e os jornais mantinham a família Windsor visível, fazendo-a parecer relevante para a vida nacional. Agora vejo que as artes estão a fazer a sua parte (um exemplo este poema estólido e paternalista de um poeta que, de resto, é fantástico). E o setor do desporto também (a Premier League "sugeriu fortemente" que os clubes tocassem o hino nacional no sábado).
Agora percebo que a imprensa portuguesa está tão interessada em mostrar fotografias dos Windsors como a imprensa britânica. Há outras histórias que não são contadas. Como os milhões de cidadãos britânicos que acham que um bilionário hereditário que sonega impostos não é digno de ser chefe de Estado. Assim, persiste uma imagem do Reino Unido para as pessoas em Portugal - a de um país rico que se contenta em aninhar-se nas suas tradições intemporais de desigualdade.


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