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Data drench (texto em português followed by text in English)

Qual é viver imerso em dados? E como mostrar essa sensação?

Os documentaristas Karim Amer & Jehane Noujaim dão uma resposta. O seu documentário The Great Hack (2019) conta uma história de exploração de dados e influência eleitoral. Um punhado de personagens descreve como a consultoria política britânica da Cambridge Analytica desenvolveu formas de colher e lucrar com a torrente de dados pessoais que muitos de nós partilhamos nas redes sociais. 

A film still showing a man walking down a corridor with digital emojis floating around him.

O envolvimento da Cambridge Analytica nos casos Trump e Brexit tem sido bem relatado. O documentário diz que os seus métodos de selecção de eleitores-chave já tinham sido utilizados para influenciar eleições em dezenas de outros países.

O filme dá-nos dois heróis. Um deles é o Professor David Carroll. Quando descobre que os seus dados do Facebook foram colhidos sem o seu consentimento, faz uma simples pergunta -Como é que eu os recupero? E persegue-a com determinação. O outro herói é a jornalista Carol Cadwalladr

Apesar destes heróis, o filme deixa-lhe inquieto. Mostra que estamos abertos à persuasão porque não compreendemos como as redes sociais dissolvem os limites da privacidade.

O projeto Micro Macro também mostra como é o data drench mas com um impacto completamente diferente - uma imersão esmagadora em todas as escalas. 

O projecto foi feita por Ryoji Ikeda, Norimichi Hirakawa, Ryo Shiraki, Tomonaga Tokuyama e Nuno Brandão Costa. Num pavilhão no património natural de Serralves, o projecto combina arquitectura, instalação e som. O filme aparece num grande ecrã quadrado no tecto. No chão, directamente abaixo, há placas de inox (como um espelho), de modo a que o filme apareça em cima e em baixo ao mesmo tempo.  

O filme começa com pressa e depois uma rajada de branco. À medida que as imagens assentam, a banda sonora respira longos sinos metálicos. No ecrã, uma estrutura modular e complexa, talvez uma molécula, gira lentamente. A banda sonora acrescenta um ping submarino repetido. Parece que está à procura de um detalhe entre toda esta informação. A procura torna-se mais difícil porque a molécula é substituída por grãos de luz que se movem como areia ao vento. 

Este panorama de dados é substituído por outros. Algumas são reconhecíveis: um scan de um cérebro humano, uma imagem da Terra. Outros são menos óbvios: coisas que poderiam ser glóbulos vermelhos, listras que podem ser um sequenciador que lê ADN. Nenhuma destas formas de dados que se vêem são rotuladas. Aparece uma bússola. Cada vez que a luneta da bússola se torce, dá um pequeno clique claro. Isto enquadra o proliferação de dados. 

À medida que a imagem se expande em escala terrestre e depois galáctica, sente-se o potencial esmagador. Aqui estão os dados sobre todos os aspectos do nosso mundo, todas as escalas, em todo o lado, tudo, tudo, tudo. Está para além do humano ter tanta perspicácia. Como é que se termina um filme como este? 

Bright strings and splatters against a black background


What does it feel like to live saturated in data? And what does that feeling look like?

Documentary filmmakers Karim Amer & Jehane Noujaim give one answer. Their documentary The Great Hack (2019) tells a story of data mining and electoral influence. A cast of characters describes how the UK political consulting firm Cambridge Analytica developed ways to harvest and profit from the torrent of data that many of us share on social media. Cambridge Analytica's pivotal involvement in the Trump and Brexit affairs has been widely reported. The documentary says that their methods of targeting key voters had already been used to tip elections in scores of other countries.

The film offers us two sterling heroes. One is Professor David Carroll. When he finds that his Facebook data has been harvested without his consent he frames a simple question – how do I get it back? He doggedly pursues this. Another hero is the plain-speaking reporter Carol Cadwalladr. 

These heroes aren’t enough to take away the queasy feeling that we are open to persuasion because we don't understand the ways social media dissolves our privacy.

The film installation Micro Macro also shows how data drench can look but with a completely different impact - an overwhelming immersion at all scales. 

A grey rectangular building in a park with grass and trees.

The piece is a collaboration between Ryoji Ikeda, Norimichi Hirakawa, Ryo Shiraki, Tomonaga Tokuyama and Nuno Brandão Costa. It is housed in a purpose-built structure in the gardens of Serralves. The film plays on a large square screen on the ceiling. On the floor, directly underneath, is a stainless steel mirror of the same dimensions so as the film plays you look down, then up, then down, continually comparing. 

The film opens with rush, then a burst of white. As the images settle down the soundtrack breathes long metallic chimes. On the screen a prodigiously complex modular structure, perhaps a molecule, rotates slowly. The soundtrack adds a repeated submarine ping, making you feel the need to search for some specific detail. Picking out details becomes abruptly harder as the molecule is replaced by grains of light that slide and rest and shift again, like wind-blown sand. 

This teeming landscape is in turn replaced by others. Some are instantly recognisable: a rotating scan of a human brain, a false colour image of the Earth. Others are less obvious: things that could be red blood cells, stripes that multiply and collapse which could be a sequencer reading DNA. None of the data forms you see are labelled or introduced but the persistent ping is joined by a circular compass framing a central area. Each time the compass bezel twists into new alignments it gives out a small clear click, keeping the proliferation in check. 

As the imagery expands in scale to the terrestrial and then the galactic you feel the overwhelming potential. Gathered here is data about all aspects of our world, all scales, all times, everywhere, everything. It is beyond human to have so much insight available. How can you end a film like this? 



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