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Hermit crab (English text) + Caranguejo eremita (texto português)

A hermit crab walking on a sandy beach.

When we arrived here, late in 2020, it seemed too simple: we drove across the border from Spain and we were in. We were in the country which we'd chosen from afar. A private decision, with no apparent link to official records. We were experiencing the ease of movement customary for white Europeans.  

But then the country tilts and you need some solid points, some handholds, something to stop you sliding out of view, some means to prise access into the common necessities: housing, doctors, dentists.

Those born here can't give much worthwhile advice about how to get a taxpayer number, a social security number, a valid driver's licence. Neither can the long-term residents. Either they didn't have to get these things for themselves, or it was so long ago that they can only remember the effort but not how it was applied.  

Our most recent achievement is getting STCP transport passes for all thee children (Sociedade de Transporte Colectivos de Porto). Getting the travel pass, or renewing it, is something that all parents or guardians have to do, not just us immigrants. 

You have to go between 3 different entities - the school, the município and STCP - and complete 5 separate steps. We made heavy weather of it. 

The first step was to go to the school and collect the declaration of attendance. My explanation at the reception desk went like this: I need a statement to prove that my daughter is attending this school so that she can apply for a card to travel free on public transport. The school receptionist nodded pleasantly and replied O passe. A declaração para o passe. My explanation wasn't wrong, but I didn't need so many words. In this context two was enough: o passe.

Over several days I acquired the preferred names for the other necessary documents. I came to understand the locations - some physical, some online -  where each document had to be presented. And I learnt the proper order in which this must be done. At its midpoint, the quest for o passe seemed a mighty challenge. Wide expanses of unknown lapped all around us. One child had just switched schools. Did I need to restart the whole process for her? Or, by substituting a few new documents, could I re-direct the existing application? When 2 different officials gave me contradictory advice, who should I believe? I was paying 1.20€ for each trip between the different offices. And our children were racking up their pay-per-journey metro trips as well. The mounting cost made my hit-and-miss approach more frustrating.

The fifth and final step was back at the station ticket office. I arrived at 8am. I had learnt not to come mid-morning when over two hundred people would be queuing with only two hatches open at the ticket counter. The official activated the cards. On the way home I felt the soon-to-be pleasure of handing them to our children. 

Riding the metro is something that they love. It makes the city manageable. Whenever we propose a trip - to the beach, or a museum, or a new park - their first question is can we get there on the metro? I thought about where we might go on our first free family trip. Maybe just down to Jardim de Morro to look out over the river. 

I didn't try to retain the new words I learnt. They're precise and rigid and only work in this situation: adquirir ao passe, certidāo de domicílio fiscal, condições de aceitação. Next year the system will have changed, or I will. Like a hermit crab leaving its shell I crawl out from under these words. I scuttle towards to my next task, picking up new words as I go, waving them over my head for partial protection. 

A street map, leaflets, a travel pass.

Quando chegámos cá, no final de 2020, parecia demasiado simples: passámos a fronteira de Espanha e estávamos cá. Estávamos no país que tínhamos escolhido de longe. Uma decisão sem qualquer ligação aparente com os registos oficiais. Estávamos a aproveitar a facilidade de circulação habitual para os europeus brancos.  

Mas depois o país inclina-se e precisamos de alguns pontos sólidos, algumas pegas, algo que nos impeça de deslizar para fora da vista, alguns meios para ter acesso às necessidades comuns: habitação, médicos, dentistas.

As pessoas nasceram aqui não podem dar conselhos úteis sobre como obter um NIF, um NISS, uma carta de condução. Os residentes de longa duração também não. Ou não tinham de obter estas coisas para si próprios, ou foi há tanto tempo que só se lembram do esforço, mas não de como era aplicado.  

É preciso ir entre 3 entidades diferentes - a escola, o município e a STCP - e completar 5 etapas separadas.

A primeira etapa foi ir à escola e recolher a declaração. A minha explicação no balcão da recepção foi assim: Preciso de uma declaração para comprovar que a minha filha está a frequentar esta escola, para que ela possa candidatar-se viajar gratuitamente nos transportes públicos. A recepcionista da escola acenou a cabeça agradavelmente e respondeu O passe. Uma declaração para o passe. A minha explicação não estava errada, mas não precisava de tantas palavras. Neste contexto, duas foram suficientes: o passe.

Durante vários dias, aprendi os nomes preferidos para os outros documentos necessários. Conheci os locais - alguns físicos, outros online - onde cada documento tinha de ser apresentado. E aprendi a ordem correcta em que isto tem de ser feito. No meio de caminho desta procura de um passe pareceu-me um poderoso desafio. Eu estava cercado pela minha própria ignorância. Quando 2 funcionários diferentes me deram conselhos contraditórios, em quem devo acreditar? Eu estava a pagar 1,20 euros por cada viagem entre os diferentes gabinetes.

A quinta e última passa estava de volta à bilheteira da estação. Cheguei às 8 da manhã. Tinha aprendido a não chegar a meio da manhã, quando mais de duzentas pessoas estavam na fila com apenas duas funcionários no balcão. O funcionário activou os passes. No caminho para casa, antecipei o prazer de os entregar as nossas filhas.

Elas adoram andar de metro. Torna a cidade mais agradável. Quando propomos uma viagem - à praia, ou a um museu, ou a um novo parque - a primeira pergunta delas é sempre: podemos lá chegar no metro? Pensei na nossa primeira viagem familiar gratuita. Talvez apenas até ao Jardim de Morro para olhar para o rio. 

Eu não tento lembrar as novas palavras que aprendi. São rígidas e só funcionam neste contexto: adquirir ao passe, certidāo de domicílio fiscal, condições de aceitação. No próximo ano, o sistema terá mudado, ou terei. Como um caranguejo eremita que deixa a sua concha, eu rastejo para fora sob estas palavras. Passo para a minha próxima tarefa, apanhando novas palavras à medida que vou avançando, balançando-as sobre a minha cabeça para uma protecção parcial.

Potted plants in a line up a flight of steps.


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