Sou um aluno novo desta língua. Sinto que certas palavras são inseparáveis: diz uma e isso leva diretamente para a outra. Não consigo imaginar como um nativo em português pode dizer tesoura sem um eco de tesouro em seus pensamentos. A mesma coisa com areia e aveia. Não consigo imaginar nenhum nativo que, ao olhar para uma placa de areia para gatos no supermercado, não se deixe levar pelos sonhos de gatos com espátulas cozinhando bolachas.
Estas ligações são em parte uma ilusão, um efeito da minha própria ignorância. Sei tão poucas palavras e tão pouco sobre a estrutura da língua, que quando encontro um padrão ou semelhança, agarro-o e não o largo.
Buxo bruxo.
Bebé bebe.
Poupe poupa.
Estou a recolher estes pares. Eles sugerem uma ordem no caos de uma língua que não compreendo, mas é uma ordem que é em grande parte inútil. Buxo é um arbusto usado com sebe ou em topiaria; bruxo é um homem que faz bruxarias. Bebé é uma criança com pouco meses de vida e bebe é a terceira pessoa singular do beber. Poupe é o imperativo do poupar; poupa é um pássaro com penas levantadas na cabeça. Está a ver? Nada disto ajuda-me na comunicação de dia-a-dia.
Estes pares de palavras são alçapões ou portais; atravessa e chega a algum lugar sem relação com o seu ponto de partida. Na minha língua materna não ouço estes pares de palavras. Quando alguém diz blackboard (quadro) não ouço o blackbird (melro) logo atrás dele. Quando alguém diz suit (fato) não ouço a sugestão de soot (fuligem). O significado modera o som, ou anula o som. Mas aqui, numa língua que estou a tentar aprender, onde som, significado e incompreensão são enrolados juntos, estes pares são o que me lembro. Podem ser inúteis, mas são aquilo de que eu me lembro.
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