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Na tradução, há sempre características da língua do texto original (que em inglês chama-se ‘source language’) que não podem ser diretamente reproduzidas na língua do público alvo (que em inglês chama-se ‘target language’). Ao passar do português para o inglês, gênero dos nomes (também chamado substantivos) é uma dessas características: no inglês os nomes só têm gênero em casos especiais. Estou a terminar uma tradução de Aberto todos os dias de João Luís Barreto Guimarães. Reparei num padrão no início do poema ‘Aquela garça ali’. Os primeiros seis nomes (também chamado substantivos) são alternadamente femininos e masculinos. Estes nomes são: a garça, o bote, a curva, o rio, a cidade, o fim. Com todos os nomes em português têm género, o género pode parecer arbitrário, sem significado especial. Para mim, o gênero sempre-se destaca «como se cada palavra tivesse sido esculpida», nas palavras de Jorge Luis Borges, porque estou a aprender a língua e estou atento às coisas comuns. Neste caso,...

A tradução de ameixoeira é apple tree

Estou a terminar as minhas primeiras traduções de Aberto todos os dias de João Luís Barreto Guimarães. Na minha experiência, a tradução de poesia necessita de um equilíbrio entre o significado e o som. As palavras que escolho precisam de comunicar um significado próximo do original português, bem como um ritmo e um padrão sonoro semelhantes. Há que fazer alguns ajustes: substituir uma palavra por um sinónimo com mais uma sílaba, ou menos uma. Substituir uma palavra por um sinónimo cujos sons das vogais participem num padrão existente na linha. Faz-me pensar numa costureira que faz pequenas alterações a uma peça de roupa para obter o melhor ajuste. O acróstico é uma forma literária em que não se pode fazer essas mudanças subtis. O poema ‘Introdução à poesia’, de Guimarães, descreve um grupo de árvores de fruto plantadas de modo a que a primeira letra de cada uma delas soletre a palavra CALMA: Cerejeira, Ameixoeira, Limoeiro, Macieira, Ameixoeira. Traduzindo esta para inglês, obtém-se: ...

No set pattern

  Question: what Portuguese term is harder to translate than saudade ?  Answer: calçada portuguesa . Calçada portuguesa has a clear and unambiguous meaning : ​​it is a paving surface made from small pieces of hard dense limestone with one flat face. The limestone comes in both black and ivory forms. The contrast between the two colours is used to form decorative patterns and mosaics. As well as having a specific definition, the practice of making these paved decorative surfaces has a global spread; as well as in former Portuguese colonies it occurs in Spain, Gibraltar, the US, Canada. Despite this, there’s no standard translation of calçada portuguesa into English.  How do I know? Because I’ve been translating poems by João Luis Barreto Guimarães. The last poem of the collection Aberto todo os dias (Quetzal Editores, 2023) has an image of a child using the binary black/ivory division of a mosaic pavement to play a game. My first translation of the poem included these l...

Berço da língua

Consegue bater na cabeça e esfregar a barriga ao mesmo tempo? Consegue ir às compras enquanto ajuda o teu filho com o TPC de matemática através do telemóvel?  Consegue ler uma língua enquanto ouve uma segunda língua ocultada pela primeira? Consegui recentemente realizar o terceiro destes desafios de multitarefas e o brilho da realização ainda está comigo. Trabalho numa escola em Portugal. Comecei no ano passado, quando foi acrescentada uma ala internacional; internacional no sentido em que o meio de instrução é inglês, as qualificações são certificadas por uma organização registada no Reino Unido, e a maioria dos alunos vem de fora de Portugal. A escola existe há quase de noventa anos, por isso os seus sistemas já estavam estabelecida antes de começar a oferecer o inglês com o meio de instrução: registo, políticas, planos de actividades, directrizes de vestuário, categorias para registar as faltas dos alunos e todos os outros procedimentos necessários para um funcionamento eficaz. ...

Multilingue / Multilingual

Na sexta-feira, 14 de Abril, fui a um evento multilingue incomum. Multilingue porque falaravam três línguas para manter todos na conversa. Incomum porque nenhuma destas línguas era o inglês.  Tratava-se do lançamento de dois livros de Peter Svetina na Livraria Velhotes  em Vila Nova de Gaia. Peter é um autor infantil consagrado, mas estas são as suas primeiras publicações em Portugal.  Peter esteve à conversa com dois dos seus editores: o seu editor português, João Manuel Ribeira , e a sua editora eslovena, Barbara Pregelj. A maior parte das perguntas vieram de Barbara. Ela dirigiu-as a Peter em espanhol e ele respondeu em esloveno. Depois, Barbara traduziu as respostas para espanhol, para benefício do público.  Tenho quase a certeza de que, à excepção das três pessoas na fila da frente que se riram ou acenaram com a cabeça enquanto o Peter falava em esloveno, todos os outros tinham o português como primeira língua. O editor João Manuel Ribeira fez algumas perguntas...