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Pão de forma justa (texto português) / Bread bags (English text)

Os nossos vizinhos dizem que Monte Branco é demasiado caro e que se pode comprar bom pão na padaria em frente. Mesmo assim, vamos ao Monte Branco. Sinto-se bem dentra da padaria:  A empresa é eficiente cada funcionário está ocupado com as tarefas que lhe são atribuídas. Dá uma sensação de retidão, de superioridade mesmo. Um dos pormenores que dá a sensação de superiodade são os sacos de pão. A maioria das padarias tem uma ilustração genérica impressa nos sacos de papel, um feixe de trigo ou um pão estaladiço. A Monte Branco tem uma antologia literária. O meu pão de hoje está embrulhado em poemas de Daniel Faria, Al Berto e Sophia de Mello Breyner Andresen.  Andresen é uma figura incontornável da literatura portuguesa e os seus contos infantis são muito lidos nas escolas. O poema dela sobre o meu saco de pão é apela à construção de um mundo mais justo, e, depois de procurar as palavras que nao conheci, dá ao meu pequeno-almoço um brilho otimista. Os dois outros autores são...

Fictícias e vivas

Vou celebrar o livro que estou a ler atualmente. O título dele é A bicicleta que tinha bigodes e o autor chama-se Ondjaki .  A história é narrada por uma criança que quer ganhar uma bicicleta num concurso nacional: quem escreve a melhor história vai receber o prêmio.  Já no início, o mundo coloca problemas à criança. O concurso foi anunciado na televisão, mas, como a criança descreve, ‘nesse dia na nossa rua não havia luz.’ E continua assim: os outros miúdos acham que o concurso é fraudulento; a criança não tem ‘jeito nenhum para essa coisa de estórias’; o escritor que vive na mesma rua não ajuda a escrever essa história.  O que se destaca nesta história são as ideias e as ações das crianças. Observam o que as rodeia, tanto os animais como os adultos. E usam uma lógica clara e direta para compreender o mundo e para tomar decisões.  Por exemplo Isaura, a amiga do narrador, costuma observar com atenção os bichinhos no quintal dela (e até lhes dá nomes dos presidentes)....

Longevity and resilience

~  Warning: this post is 1,300 words which is longer than usual for this blog. Get comfortable before you start reading. Livraria Velhotes is a 15-minute walk from where I live: turn left at the top of our street, go past the ruined house with the goats in the garden, past the kindergarten, the football field, the jujitsu studio, the water reservoir and just before you reach the high school the bookstore is on your left.  One of the partners, Pedro Carvalho, told me about the history, spirit and practice of the bookstore. In this edited transcript of the interview, Pedro talks about financial survival, publication in Portugal and the relationship between a bookstore and its community.  Lawrence: How can an independent bookshop survive in this era of multinational publishers and online bookselling? Pedro: Over time the bookshops in Vila Nova de Gaia have been disappearing, and the same with secondhand bookshops.  Vila Nova de Gaia, as you may have noticed, is one of ...

Longevidade e resiliência

~  Aviso: este post é cerca de 1.300 palavras, mais do que o habitual para este blogue. Ponha-se à vontade antes de começar a ler. Livraria Velhotes fica apenas 15 minutos a pé de onde eu vivo: vire à esquerda no fim da minha rua, passe a casa em ruínas com as cabras no jardim, passe pelo jardim de infância, pelo campo de futebol, estúdio de jujitsu, Águas de Gaia e, pouco antes de chegar à grande escola secundária, a livraria fica à sua esquerda.  Um dos sócios da livraria, Pedro Carvalho, falou-me sobre a história, o espírito e a prática da livraria. Nesta transcrição editada da entrevista, Pedro fala da sobrevivência financeira, da publicação em Portugal e da relação entre uma livraria e a sua comunidade.  Lawrence : Como poder sobreviver uma livraria independente neste altura da empresas multinacionais e livrarias online? Pedro : Em Vila Nova de Gaia as livrarias de livros novos e de livros usados foram, com o decorrer do tempo, desaparecendo.  Vila Nova de...