Estou a terminar as minhas primeiras traduções de Aberto todos os dias de João Luís Barreto Guimarães.
Na minha experiência, a tradução de poesia necessita de um equilíbrio entre o significado e o som. As palavras que escolho precisam de comunicar um significado próximo do original português, bem como um ritmo e um padrão sonoro semelhantes. Há que fazer alguns ajustes: substituir uma palavra por um sinónimo com mais uma sílaba, ou menos uma. Substituir uma palavra por um sinónimo cujos sons das vogais participem num padrão existente na linha. Faz-me pensar numa costureira que faz pequenas alterações a uma peça de roupa para obter o melhor ajuste.
O acróstico é uma forma literária em que não se pode fazer essas mudanças subtis. O poema ‘Introdução à poesia’, de Guimarães, descreve um grupo de árvores de fruto plantadas de modo a que a primeira letra de cada uma delas soletre a palavra CALMA: Cerejeira, Ameixoeira, Limoeiro, Macieira, Ameixoeira. Traduzindo esta para inglês, obtém-se: Cherry tree, Plum tree, Lemon tree, Apple tree, Plum tree. O acróstico desapareceu. Em vez de uma palavra, CALMA, temos seis letras que não soletram nada: CPLAL.
A minha solução foi uma jardinagem decidida. Tirei as ameixas, coloquei a macieira no seu lugar e plantei um Crataegus germanica, chamado nêspera em portugues. (Atenção: o nome nêspera também é usado para Eriobotrya japonica que é bastante comum no Portugal. Eriobotrya japonica em ingles é loquat.) Agora tinha Cherry tree, Apple tree, Lemon tree and Medlar tree, que soletram CALM.
O Crataegus germanica, existe nos livros (de Chaucer, Shakespeare, Rabelais, Cervantes, DH Lawrence), mas está quase ausente dos jardins, das lojas e da dieta das pessoas, tanto em Portugal como no Reino Unido. (A Eastgate Larder está a trabalhar por cultivar e distribuir nêsperas e tem também muito informação sobre a fruta.)

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